outro rumo .

ainda nao chegou o Inverno, e ja sinto o frio da chuva, o Outono vai cobrindo a água de palavras como se fossem folhas deixadas pelo vento. as palavras que desenhaste cuidadosamente na voz, como se fossem verdadeiras, como se tivessem nascido das tuas maos, que ainda transportassem o teu cheiro. essa agua guardá-las-á em silêncio. durante estações, durante meses, dias e horas, as palavras serão as mesmas, e serão finalmente tuas quando no verão te debruçares sobre a água, e sentires a sede, e quando olhares bem, verás o reflexo de quem ja foi tua, aí vais-te lembrar da cidade que partilhavamos, homens e mulheres apaixonadas, vais-te lembrar da gaivota que voava sobre nos impávida e serena, e de cada beijo apressado e rubusco a cada bater de asas . hoje fechei a porta as sombras coloridas que desenhamos no chão, do outro lado a luz branca e quente, cegou-me. mais um passo e perderia o som das letras, a melodia das palavras, mais um passo e perderia a alegria das janelas, a sabedoria do alpendre, e os segredos que partilhavamos com aquele terraço.